Irã e Israel atravessam um dos momentos mais tensos de sua história recente, após uma nova troca de ataques entre os dois países. Israel realizou, na manhã desta sexta-feira, 13, um bombardeio contra alvos estratégicos no Irã, incluindo centros ligados ao programa nuclear e líderes militares. A ofensiva foi respondida quase imediatamente pelo governo iraniano, elevando os temores de um conflito mais amplo no Oriente Médio. O episódio ocorre em meio à guerra entre Israel e o grupo Hamas, iniciada em outubro de 2023.
Apesar da atual hostilidade, nem sempre as relações entre Teerã e Tel Aviv foram marcadas por rivalidade. Até 1979, os dois países mantinham laços estreitos, inclusive com cooperação militar e econômica. Essa relação foi profundamente alterada com a Revolução Iraniana, que derrubou o xá Mohammad Reza Pahlavi — aliado do Ocidente e de Israel — e instaurou a República Islâmica sob liderança do aiatolá Ruhollah Khomeini.
A ruptura foi ideológica e estratégica. O novo regime ou a adotar uma postura radicalmente oposta à de seu antecessor, com forte discurso anti-Israel e anti-Ocidente. De acordo com o especialista Karim Sadjadpour, os objetivos centrais dos aiatolás incluem expulsar os Estados Unidos do Oriente Médio, substituir Israel por um Estado palestino e desafiar a ordem mundial liderada pelos EUA.
Durante décadas, no entanto, Irã e Israel chegaram a atuar como aliados. A comunidade judaica no Irã tem mais de 2.500 anos de história, e o país apoiou, inicialmente, a criação do Estado de Israel em votações da ONU. Nos anos 1950 e 1960, os dois países firmaram acordos de cooperação em áreas como petróleo e armamentos. O Irã fornecia petróleo a preços reduzidos e, mesmo após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, manteve laços discretos com o governo israelense.
Essa aproximação incluía operações conjuntas como o “Project Flower”, voltado ao desenvolvimento de mísseis, e o uso de empresas sediadas no Panamá e na Suíça para contornar restrições comerciais. Esses acordos só começaram a ser encerrados pouco antes da revolução de 1979.
Com a ascensão do regime teocrático, Teerã ou a se alinhar a grupos como Hezbollah e Hamas, ambos considerados inimigos por Israel. A rivalidade ganhou contornos militares e simbólicos ao longo dos anos, com ameaças mútuas, retórica inflamada e confrontos indiretos em países como Síria, Líbano e Iraque.
Apesar de momentos isolados de interesse comum, como o ataque israelense em 1981 ao reator nuclear iraquiano — que, indiretamente, favoreceu o Irã durante a guerra contra Saddam Hussein —, a relação nunca mais voltou ao patamar de parceria. A Revolução Iraniana foi o ponto de inflexão definitivo, transformando antigos aliados em inimigos declarados.